segunda-feira, 7 de novembro de 2016

RELACIONAMENTO X FIV OU... RELACIONAMENTO + FIV. - Tirem suas próprias conclusões. – Publicado em 20/06/2016



Oi mais uma vez...
Hoje estou inspirada.
Vim aqui mais uma vez pra falar do MEU relacionamento e de como ele reagiu à infertilidade e em seguida à FIV.

Então..
     Primeiramente, depois de um ano tentando é que começaram os questionamentos. "O que está acontecendo?"
     Neste momento, a culpa estava em cima de mim. Eu tenho SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos), estava mesmo acima do peso (uns 5 quilos) e tinha uma dieta nada saudável. Eu me sentia mal, emocionalmente falando, e culpada também. E isso era reforçado quando a menstruação atrasava, eu comentava com meu marido, e ele jogava um balde de água fria nas minhas esperanças: "você sabe que não está grávida! Com esse peso, cheia de espinhas na cara, e comendo desse jeito, nunca vai engravidar! Você tem que mudar de vida!". E por um tempo, quase um ano, lutei com a balança. Consegui voltar a meu peso de sempre... perdi aqueles 5 quilos. Me tornei um pouco mais ativa, entrei na hidroginástica. Tomei metformina em dose máxima religiosamente por 6 meses.         Mudei minha dieta... a duras penas... e vi quando meus folículos diminuíram.
   A rotina de saber o dia fértil. De ter que "namorar", de ter que ficar quieta depois, de não beber álcool, de ficar triste com cada menstruação... tudo isso foi minando nosso relacionamento.
    Fiz vários ultrassons de monitoramento da ovulação. Fiz exames de sangue que comprovavam meu exame de urina e o ultrassom : eu estava OVULANDO.
    E mesmo assim, mantendo esse ritmo de ovulação comprovada, estimulantes como o Clomid (três ciclos com doses cada vez maiores), muco cervical transparente (clara de ovo)... mesmo com tudo dizendo "ESTOU OVULANDO!!!!" só meu ginecologista acreditava em mim.
     Ele demorou a aceitar a realidade: tínhamos que investigar a parte dele também. O meu ginecologista, muito timidamente, cheio de dedos, pediu um espermograma, e ele fez o maior drama!     Fez mil exigências, colocou mil obstáculos, praticamente se negou a fazer... seria desperdício de tempo, dinheiro além de muito embaraçoso. Embaraçoso???? Embaraçoso é fazer tantos exames (desculpem as próximas palavras) com as pernas arreganhadas, desacordada pela anestesia, sentindo dores, desconforto, tomando remédios diariamente, sentindo cólicas por não poder tomar o anticoncepcional! Embaraçoso era ouvir ele justificando para quem perguntava "quando vão encomendar o bebê?" dizendo que eu tinha SOP e ponto final... ia demorar pois eu tinha ainda muito o que emagrecer... Quando veio o resultado do espermograma também teve o período de negação: "a amostra não foi boa, eu fiquei muitos dias em abstinência sexual" E eu respondia "faz outro amor..."     "Deus me livre! Nem a pau!". OK. Como sempre a briga foi homérica, as lágrimas foram muitas.
    Veio então a conversa :"Pra mim isso é sinal de que Deus não quer que tenhamos filhos"! Pasmem, ouvi isso do homem que mais amo nesse mundo. Quando eu me vi com 29 anos, com um cara que poderia, mas não queria fazer mais nada para termos um bebê, e quando percebi que meu sonho de ter 2 filhos estava sendo impedido por um pensamento bobo da parte dele, eu fiquei perdida... Pra mim isso era sinal de que não deveríamos continuar juntos! 
    Depois de muita briga e muita conversa ele admitiu que estava errado. Que estava desistindo muito cedo. Que ainda haviam chances. Ele é um homem da medicina, um médico poxa! Vamos até onde a medicina nos levar... vamos tentar. Mas desistir sem tentar seria burrice, ignorância, já que temos o dinheiro, os espermatozoides, os óvulos, o útero, o endométrio e o coração... temos todo o necessário para tentar ao menos.
    E depois de tanta briga será que valia a pena continuar juntos? Será que não seria estupidez ficar juntos depois de descobrir que pensávamos tão diferente, e ainda envolver um ser humano nesse ambiente instável?
   Fomo à procura da resposta para essas e outras perguntas na psicoterapia. Tiramos férias, nós três (eu, minha filha e ele), como a muitos anos eu sonhava. Fui ao psiquiatra. Tentei tomar remédios mas eles me dão insônia. Encontramos uma psicóloga e logo no início do ano começamos a ter encontros semanais em casal e individualmente. Foi o despertar de nossa autoconsciência e de nosso consciente duplo, como casal. Nos recuperamos do baque da infertilidade apenas encarando o problema, e assumindo verbalmente, cada um, para si e para o outro, a sua responsabilidade sobre o que estava acontecendo. Pedindo perdão e perdoando pelo passado. Reescrevendo nosso futuro, nossos planos, sessão a sessão. Desenterrando cadáveres, preconceitos e mágoas e jogando fora... tudo fora...
   Em abril, já tínhamos esquecido a questão da fertilização. Nos demos conta de que o verão passou e a Zika já não seria uma ameaça. E nos reconhecemos mais tranquilos, mais parceiros, menos egoístas e mais casal mesmo. Colocamos nossos objetivos e nosso amor na balança... tudo caminhando na mesma direção. Voltamos ao consultório do Dr. Ricardo, onde não se viam mais lágrimas de culpa em meus olhos, e sim um brilho de esperança nos olhos dos dois... meus e dele... nós queríamos a mesma coisa. Estávamos dispostos a tudo. Um pelo outro e os dois pelo nosso filho.
   Foi dada a largada. Plano de tratamento na mão. Injeções compradas... começou! Eu estava feliz e sensível, e ele preocupado e ansioso. Ele cuidou de mim como eu precisava que cuidasse. Eu acalmava ele quando a ansiedade era demais. E não abandonamos nossa psicóloga. Até intensificamos os encontros. Sentimos necessidade de estar preparados pra tudo, boas e más notícias, e posso dizer que foi muito bom ter feito essa preparação e esse acompanhamento.
   Neste exato momento sinto que ele divide comigo a expectativa do próximo ultrassom e que está mais confiante do que eu. "Você vai menstruar logo né amorzinho?!" ele me perguntou ontem antes de dormir, com um tom animado, ansioso, nervoso no bom sentido. Fez as contas e imaginou quando iriamos à clínica buscar nosso bebê... Essas atitudes dele me derretem... me fazem ter mais certeza de que escolhi um ótimo pai para meus filhos.
   Em resumo. Nosso relacionamento, como o relacionamento de várias pessoas que encaram a infertilidade e a FIV foi sim afetado. Isso não quer dizer que não fomos feitos um pro outro ou que não nos amamos o suficiente. Significa que tínhamos que aprender muita coisa sobre nós mesmos antes de dar o próximo passo. Seis anos de relacionamento parecem muito, mas são segundos quando se guardam mágoas, ressentimentos e rancores. Ao mesmo tempo, depois que tratamos esse nosso relacionamento frágil, ele se fortaleceu, e hoje podemos dizer que a FIV foi um dos fatores desse fortalecimento. Com o processo passamos a valorizar mais um ao outro, reconhecemos nossas responsabilidades e nossos papéis na relação. 
Espero que cada um de vocês que esteja passando por isso procure ajuda, ou que de alguma maneira encontre a paz e a felicidade nesses momentos de aflição, ansiedade e medo que a FIV nos trás.

Um abraço.
Fiquem com Deus.


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